segunda-feira, 11 de outubro de 2010

103 anos de D. Canô!


Estes dias, recebi um presente – que considero divino: a oportunidade de celebrar, novamente, o aniversário (desta vez, dos 103 anos de vida) da amiga Canô Velloso. E que vida! Vida de doação no amor e no bem que florescem, sempre renovados. Quinta-feira da semana passada, dia 16 de setembro, Santo Amaro-BA estava em festa para a comemoração do natalício de alguém que se tornou especial na vida de muitas pessoas. Os(as) filhos(as), todos(as) visivelmente emocionados(as) e felizes: Clara, Mabel, Roberto, Rodrigo, Caetano, Bethânia, Nicinha e Irene (estas últimas, rebentos não biológicos, mas acolhidos pelo coração de Canozinha). Os(as) netos(as) e bisnetos(as), também, radiantes, exultavam. Demais familiares e nós, convidados(as), unimo-nos a todos os(as) presentes para agradecer a Deus pelas lições imortais de sabedoria emanadas de D. Canô. Primeiro, na Missa em Ação de Graças conduzida pelo Monsenhor Sadoc, animada pelo coral e orquestra do maestro Miguel Lima. Não poderia, o início da festividade, ser em local diverso, porque Canô, além de devota de Nossa Senhora da Purificação, é uma cristã, católica, que sempre deu marcante exemplo da sua fé. Em seguida, na própria residência da matriarca, reunimo-nos, onde foi servida a mesa da alegria, da bonança e, especialmente, da gratidão. Lúcida como sempre, Canozinha acompanhou, vivaz, humilde e alegre, todos os passos da comemoração. A sua sala, logo repleta de presentes e de flores, de espécies e cores mais variadas, comunicava os agradecimentos das pessoas para com a aniversariante, cujo olhar transmitia uma paz indescritível.
E por que escrever sobre o aniversário de D. Canô? Questionei-me. Por ser mãe de filhos que se tornaram famosos? Não.
Realmente, é incontestável que Claudionor Viana Teles Velloso (conhecida afetivamente como Canô) se tornou nacional e internacionalmente conhecida por conta dos múltiplos talentos de alguns dos(as) filhos(as) – especialmente, Caetano Velloso e Maria Bethânia. E, por consequência, muitas pessoas se atraíram a conhecê-la, devido à admiração pelo reconhecido trabalho destes(as) filhos(as). Mas a verdade inexorável, da qual eu sou prova, é a de que, uma vez tendo se aproximado de D. Canô, o maior foco de admiração se volta para ela. Ou seja: é como se os(as) filhos(as) deixassem de brilhar, em um certo aspecto, para dar espaço a quem sempre teve um lugar de humildade e de sabedoria bem próprio e delimitado na eternidade: ela, D. Canô.
Conheci D. Canô pessoalmente em janeiro de 2004, quando, a convite do amigo Pe. Hélio (então pároco de Santo Amaro), fui cantar na Festa de Nossa Senhora da Purificação, na Igreja – uma canção que compus em homenagem à padroeira dos(as) santamarenses, intitulada Menina da Purificação, e que já tive a oportunidade de gravar. Parece que as minhas palavras de louvor à Virgem Mãe, naquela noite de 30 de janeiro de 2004, tocaram o coração repleto de doçura de Canozinha. Após conversar com ela, a mesma me fez, de pronto, um convite de ir à sua residência para dialogarmos mais. De lá para cá, foram muitas idas e vindas à sua casa, almoços, lanches, prosas, risos e a amizade se solidificando, com aprendizados que guardarei para sempre. Lembro-me, como hoje, que, em 2005, após alguns meses sem vê-la, eu a reencontrei no camarim do Teatro Castro Alves, em Salvador, após um show da filha. E ela, sem titubear, ao me ver, exclamou: “Enézio, meu filho! Como vai?”. Respondi: “Bem, D. Canô. Melhor ainda ao vê-la tão alegre!”. E ela: “Não poderia ser diferente! Mas me diga, meu filho: você vai voltar para Feira de Santana agora à noite, a esta hora?” Eu retruquei: “Não, D. Canô. Eu dormirei aqui em Salvador e só viajo amanhã.”. Ela, então: “Ainda bem, porque as estradas estão muito perigosas e sua vida é demais preciosa!”. O diálogo prosseguiu. E, adiante, comentamos a beleza da canção que Caetano compôs em sua homenagem (o Ofertório, sempre entoado nas missas dos seus aniversários). Eu reproduzi parte deste diálogo, somente para demonstrar que, uma vez acolhida pelo coração de D. Canô, uma pessoa passa a ser parte da sua vida dadivosa, das suas orações, preocupações e atenções tão doces quanto o seu sorriso, que não se cala – mesmo diante de possíveis adversidades.
D. Canô poderia, simplesmente, fechar-se em um mundo doméstico de conforto (merecido conforto que a circunda, pela provisão especial dos(as) filhos(as), especialmente de Maria Bethânia – mesmo à distância, tão presente na vida da mãe), mas não o fez. Fez-se mulher para muito além do lar; participante vívida do cotidiano do seu povo santamarense, da gente baiana, brasileira e mundial; cidadã que se envolveu e se envolve em inúmeras campanhas beneficentes, festividades populares, estimulando a arte, em suas manifestações diversas, e colaborando com atividades culturais das mais variadas – especialmente as religiosas, como são exemplos, para além de Santo Amaro, a Festa de Nossa Senhora Sant’Ana (Feira de Santana-BA) e a Festa de Nossa Senhora Aparecida (Aparecida-SP). Canô nunca negou um sorriso e um afago a quem quer que seja, recebendo, destemida e sorridente, milhares de pessoas em sua própria residência, com a maior simplicidade e paciência. Também, nunca se furtou a discordar de modo firme, quando preciso, para fazer valer a verdade do bem. E, neste particular, por conhecê-la de perto, posso afirmar que ela nunca se deixou ludibriar ou seguir, simplesmente para agradar ou para não contrariar, as opiniões de quem quer que seja (mesmo de familiares ou de pessoas mais próximas). Tem suas próprias convicções sólidas e as expõe com a maior naturalidade, sem perder um traço que lhe é peculiar: a doçura.
Enquanto, para muitos(as), envelhecer é sinônimo de temor ou pesar, para Canozinha é motivo de alegria, de comemoração. Como não louvar a Deus pela sua vida? Como não louvá-Lo pela vida das pessoas que, na chamada terceira idade, com mais de oitenta, noventa ou cem anos, transmitem-nos tantas lições de sabedoria? Estou pleno de que, a exemplo de D. Canô, as(os) idosas(os) são mulheres e homens muito especiais: além de “donos(as) do tempo”, constituem veículos pulsantes de educação e de cidadania – uma cidadania para além dos direitos políticos; uma cidadania no amor e no bem que tanto edificam. Por me apresentar pessoas marcantes assim - como Canô -, a vida me tem sido objeto de louvor e de estímulo, de revalorização constante, de sagrado agradecimento. Descubro, enfim, que estas pessoas nunca morrem! D. Canô, que Santo Amaro recebeu por bênção divina, sintetiza, sem dúvida, um exemplo de comunhão familiar e fraterna dos mais admiráveis.
Diante do estado de graça e de constante aprendizagem que me envolve, convido-lhes, amigos e amigas, a mirarem, em Canozinha e em tantos(as) outros(as) “donos(as) do tempo”, um amanhã mais justo, livre e solidário. Conclamo-lhes para que a cidadania de milhões de senhoras e de senhores não continue - como, para muitas(os) está – ameaçada, pela negligência individual, familiar ou pelo descaso dos Poderes Públicos, pois tal abandono, ofuscando-lhes o brilho, inerente a todos os seres humanos, impede-lhes de concluírem a jornada dignamente e de serem, também, conhecidas(os). Na condição de sementes fecundas e imortais de sabedoria, as mulheres e os homens que se encontram na convencionada “terceira idade”, além de proteção jurídico-social adequada, precisam ser mais percebidos e valorizados, pois foram os responsáveis pela edificação dos alicerces que nos servem de base existencial e são, do presente ao eterno futuro, a prova de que viver, com dignidade e preservando a integridade, ainda é o grande e melhor presente!

Parabéns, D. Canô! Salve, Canozinha! Deus seja louvado!


Texto de autoria do Dr. Enézio de Deus Silva Júnior

Membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM
Mestrando em Família na Sociedade Contemporânea, UCSAL
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
Especialista em Direito Público
Advogado - 0AB-BA 20.914

2 comentários:

  1. Parabens pelo post, nota mil
    Passei aqui lendo. Vim lhe desejar um Tempo agradável, Harmonioso e com Sabedoria. Nenhuma pessoa indicou-me ou chamou-me aqui. Gostei do que vi e li. Por isso, estou lhe convidando a visitar o meu blog. Muito Simplório por sinal. Mas, dinâmico e autêntico. E se possivel, seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato esperando por você. Um abraço e fique com DEUS.

    http://josemariacostaescreveu.blogspot.com

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  2. É muita felicidade para os ela, os filhos,parentes e amigos. Que Deus a abençoe hoje e sempre.

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